Luis Miguel Modino*
A chegada do Papa Francisco levou a um impulso às
Comunidades eclesiais de Base (CEBs).
A partir desta nova situação eclesial, o Iser Assessoria e o Setor CEBs da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB organizaram um encontro de assessores e assessoras das CEBs do Brasil de 30 de julho a 1 de agosto de 2015. Estiveram presentes mais de 50 pessoas, procedentes das diferentes regiões do país, para refletir juntos a partir do tema “Perspectivas para as CEBs no Pontificado do Papa Francisco”, sem deixar de lado os desafios que se apresentam na evangelização do mundo urbano, aspecto que constitui o tema central do próximo Intereclesial, a ser celebrado em Londrina, em janeiro de 2018.
A partir desta nova situação eclesial, o Iser Assessoria e o Setor CEBs da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB organizaram um encontro de assessores e assessoras das CEBs do Brasil de 30 de julho a 1 de agosto de 2015. Estiveram presentes mais de 50 pessoas, procedentes das diferentes regiões do país, para refletir juntos a partir do tema “Perspectivas para as CEBs no Pontificado do Papa Francisco”, sem deixar de lado os desafios que se apresentam na evangelização do mundo urbano, aspecto que constitui o tema central do próximo Intereclesial, a ser celebrado em Londrina, em janeiro de 2018.
Os desafios do
mundo urbano são grandes e complexos, assim como os da própria realidade
eclesial. Dentro deste panorama socioeclesial, as CEBs
se movem em uma perspectiva de esperança, que surge da
proposta do Reino e a retomada de Francisco da visão eclesiológica do Vaticano
II.
As CEBs se posicionam como instrumento necessário e
eficaz na realização da missão, de que são
destinatários principais a juventude, os empobrecidos e excluídos, as mulheres,
e também na que se fazem participantes os movimentos populares, as pastorais
sociais e outras igrejas, com quem querem assumir conjuntamente as causas dos
pobres. Foram compartilhadas diversas
experiências de trabalho na periferia de algumas cidades brasileiras e com
aqueles que vivem nas periferias existenciais. Tudo isso sem
esquecer que vivemos em uma sociedade e participamos de uma linguagem onde o
virtual exige cada vez mais protagonismo.
Neste sentido, Raquel Rolnik,
professora da Universidade de São Paulo e ex-relatora da ONU em questões
referentes ao direito à moradia digna, depois de analisar a realidade do mundo
urbano, assinalava que as CEBs devem assumir o papel, a partir de seu
compromisso com a libertação, de oferecer uma leitura alternativa do que se
passa, que seja fonte de esperança e de utopia. E não
só isso, devem também mostrar aos movimentos populares que não estão loucos nem
sozinhos e que suas reivindicações são legítimas.
Da
reflexão coletiva surge a necessidade de revitalizar as CEBs, revendo seus
princípios orientadores e metodológicos, sendo necessário um diálogo com a
complexa realidade do mundo urbano a partir de uma perspectiva bíblica, na
qual devem se consolidar experiências de fé transformadoras, libertadoras e
proféticas, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus de Nazaré,
valorizando as expressões religiosas populares e elaborando um discurso
contrário ao do mercado, que coloque o foco na solidariedade, na vida fraterna,
na reconstrução das relações comunitárias, no macroecumenismo, na ecologia, na misericórdia e na escuta do
clamor dos sofredores, assumindo o compromisso de lutar por direitos, que leve a
reafirmar a centralidade dos pobres e a prática da
justiça. Tudo isso baseado em uma
articulação da mística, da presença, do testemunho e da profecia.
As CEBs são conscientes que o presente é um tempo de
busca, em um ambiente em que o clericalismo e a autorreferencialidade eclesial levam a um sentimento de
estar como ovelhas sem pastor. A isso se referia Francisco de Aquino Junior,
sacerdote e professor de Teologia, que fez uma leitura histórico-teológica da
vida da igreja nos últimos 50 anos, as consequências
do modelo eclesial assumido desde a década de 80 e o empenho do Papa Francisco
para mudar esta dinâmica, aspectos em que também insistiu o professor Sérgio
Coutinho. Daí, o ser igreja em saída, que tanto incentiva o bispo de Roma, tem
que partir de algumas perguntas: Para onde? Com quem?
A favor de quem?
As CEBs assumem
que hoje são uma minoria teológica e eclesiológica, que não
são a única expressão profética do Reino, que devem buscar o consenso, que não
devem diluir o espírito, carisma e identidade dentro da realidade contemporânea
e que são igreja pobre e dos pobres, colocando os excluídos, as minorias
e o seguimento de Jesus de Nazaré como elementos
centrais.
O caminho a seguir deve partir de um processo de
formação de leigos e de leigas que animam a vida das comunidades, numa
perspectiva bíblica e teológica que coloque a Palavra de Deus no centro da
experiência comunitária, impulsionando os grupos de reflexão bíblica. Um desafio
urgente é fazer-se presente nas bases com novas metodologias, levando em conta
as experiências bem sucedidas de vida comunitária e aproveitando os ventos
favoráveis chegados com Francisco e que têm permitido que voltem adquirir
protagonismo as intuições eclesiológicas formuladas no Vaticano II e em
Medellín.
As CEBs creem em uma eclesiologia participativa onde os
conselhos pastorais sejam mais valorizados, comunitária, ministerial, laical,
ecumênica, aspectos defendidos no Vaticano II. Insistem na necessária
incorporação dos jovens e outros atores sociais, e no imperativo de abraçar o
cuidado da Casa Comum e dos frágeis do
mundo.
A
partir destas idéias surgem algumas perguntas, como a formulada pelo sociólogo
Pedro Ribeiro de Oliveira em sua intervenção, se as CEBs são ainda comunidades
eclesiais de base, se não deixaram de ser aquilo que Pedro Casaldáliga destacava em 1989, as definindo como “a nova
forma de toda a igreja ser”, para converter-se em um movimento espiritual a
partir dos círculos bíblicos e da Teologia da
Libertação. A socióloga Solange
Rodrigues que, como Pedro faz parte da equipe de Iser
Assessoria, se interrogava se tem sentido falar de CEBs em uma sociedade urbana,
complexa e plural.
Na verdade, são muitos os elementos a serem refletidos
e, ao mesmo tempo, são muitas as perguntas que surgem ao levar adiante um
processo evangelizador baseado na centralidade dos pobres e na luta pela
justiça. A isso buscam responder as CEBs do Brasil
e de
tantos lugares do mundo, especialmente da América Latina. Tudo isso sem esquecer da letra da canção com que o encontro foi
encerrado: “Nossa alegria é saber que um
dia todo este povo se libertará, pois Jesus Cristo é o Senhor do mundo, nossa
esperança realizará”.
*Sacerdote diocesano de Madri desde 1998 e missionário
na Diocese de Ruy Barbosa, Bahia, Brasil desde 2006.
Fonte:
periodistadigital.com